terça-feira, 1 de setembro de 2009

Atividade 2.3

Educação Brasileira:

Historicidade, desafios das práticas pedagógicas e perspectivas.

Os problemas da educação no Brasil podem estar relacionados a dois fatores. O primeiro se refere aos modelos pedagógicos implantados ao longo da história e o segundo, à ideologia que norteou a pedagogia brasileira durante os séculos que seguiram o descobrimento.

Segundo ROMANELI, o modelo pedagógico do Brasil do descobrimento é o modelo importado da Europa “através da formação dos padres da Companhia de Jesus” (ROMANELI, 2001: 33). Este foi aplicado na catequese indígena e seu objetivo era impor aos índios a fé cristã como única forma de salvação, desestruturando a cultura e a religião indígena, dando novo rosto, nova forma de vida aos nativos. Tal modelo é “caracterizado, sobretudo por uma enérgica reação contra o pensamento crítico” (ROMANELLI, 2001: 34); Quer formar, delinear – o que na filosofia de LOCKE[1], se aplicaria o conceito no qual o homem é uma tabula rasa, na qual são impressos o conhecimento; o professor é o transmissor de conhecimento e, em linguagem popular, “dono” da verdade. Os recursos utilizados são o livro didático, como referência teórica, giz, quadro e outros meios tradicionais. Para esta pedagogia, damos o nome de pedagogia tradicional.

O modelo tradicional-jesuíta será o referencial para o Brasil durante séculos e trará grandes implicações para a educação. Durante o período da colonização, este modelo pedagógico estará ligado às elites desde sua origem. A principio, a educação jesuíta voltada para os índios, conforme dissemos, está ligada à catequese e não é compreendida enquanto educação de fato, como estamos acostumados. Depois, tal modelo, diz respeito às elites à medida que apenas os padres sabiam ler e escrever e eram considerados letrados. Para educar seus filhos, as famílias do Brasil colônia adotaram o costume europeu de enviar seus filhos para escolas de religiosos e religiosas, onde seriam educados nos princípios cristãos e de acordo com a moral cristã da Igreja Medieval. Falar de escola no Brasil colônia é falar de educação nos parâmetros religiosos da Igreja.

Vale ressaltar que essas escolas de modelo jesuíta foram implantadas em várias partes do Brasil para acolher jovens para os estudos, nos modelos de internato ou semi-internato. E, ainda, durante muitos anos, as famílias da elite brasileira enviaram seus filhos para concluírem os estudos superiores na Europa ou fora do Brasil, pois a compreensão de educação de qualidade estava intimamente ligada à educação do exterior.

Em meados do século XX, tomando como base o Construtivismo, surge a escola liberal, contraposta ao modelo tradicional jesuíta. Esta escola tinha como objetivo a libertação do indivíduo. No entender de GUIRALDELLI,

redescrever uma filosofia da educação para a liberdade, de modo a trazer a liberdade para o campo no qual ela faz sentido, que é o campo prático. Só assim poderemos voltar a usar da inteligência. Sem contestação, é difícil ser inteligente”[2].

Enquanto aquele modelo forma seguindo padrões pré-definidos, este quer dar ao educando a oportunidade de construir o seu conhecimento a partir do senso comum, trazido de casa, do tempo vivido antes da escola. Considera, ainda, que o aluno já é sujeito conhecedor, portador de conhecimento e, como tal, precisa apenas adaptar seus conhecimentos prévios ao conhecimento científico, padronizado. Neste sentido, o professor é contribuinte, auxiliar, companheiro que ajudará o aluno a transgredir, crescer e redimensionar o seu conhecimento. Ambos, professor e aluno, trabalham em prol da construção comum do conhecimento, onde todos são sujeitos. Para Garcia e Alves (1999):

“Muitas professoras sabem que há diferentes modos de tecer/criar conhecimentos; traçam-se conhecimentos na escola, mas também fora da escola, nos encontros e desencontros, no trabalho, nas brincadeiras, nas relações que dentro e fora da escola cada um vive. E cada uma de nós puxa os fios dessa imensa rede e vai tecendo, a sua moda, seu tapete de significações e significados, pois cada uma de nós é única ainda que alguns tentem prender-nos em suas classificações, sempre redutores da complexidade e riqueza de cada eu e de cada nós(p. 101).

Para a educação construtivista não há limites de recursos pedagógicos, bem como modulação de disciplinas. O professor é um articulador que interliga os diversos saberes nos diferentes momentos da educação da criança, conforme o seu despertar e o seu desenvolvimento. Dentro do método de Piaget:

“A inteligência lógica tem um mecanismo auto-regulador evolutivo. Certas noções, como quantidade, proporção, sequência, causalidade, volume etc. surgem espontaneamente em momentos diferentes do desenvolvimento da criança em sua interação com o meio.” (FOLHA, 2009)[3]

A escola construtivista chegou ao Brasil cheia de sonhos, concomitante a movimentos sociais; ansiavam mudanças que desvinculariam o país do aspecto de colônia européia e renovaria os modelos políticos e, porque não, educacionais, indo para longe do taylorismo/fordismo[4] da velha escola. As oligarquias – que nunca se afastaram do governo, porém, não permitiram que tal modelo fosse efetivado como lei que nortearia a educação e mais uma vez a velha pedagogia apareceria latente nos documentos e na legislação educacional.

Uma tentativa de reverter esse processo histórico ligado aos modelos pedagógicos, foi a implantação em alguns estados da escola como Ciclos de Formação Humana. Seria essa uma terceira via entre o modelo tradicional e o modelo construtivista? Fato é que esta escola está mais voltada para o construtivismo e quer definitivamente romper com a escola tradicional. Aqui se privilegia a formação estudantil como um processo contínuo e crescente, interligando os saberes. Os conceitos de interdisciplinaridade[5], multidisciplinaridade e multi-referencialidade são frequentemente utilizados dentro dos Ciclos de Formação; o objetivo é promover o aluno para um saber mais complexo, garantindo-lhe a emancipação do saber.

Longe da exclusão, os Ciclos querem ser uma nova inclusão sócio-educacional. A metodologia baseia-se numa “avaliação emancipatória”, na qual:

“Há a superação da avaliação seletiva e classificatória tradicionalmente praticada. Essa forma de avaliação é própria da concepção de conhecimento como um produto pronto e acabado, que é repassado para o espaço vazio, homogêneo, da cabeça do educando.”[6]

Seria esta uma melhor forma de educar o Brasil? Os grandes questionamentos a respeito dos Ciclos de Formação Humana giram em torno da estrutura humana e física do espaço educacional. A maioria dos estados brasileiros não conta com uma estrutura física que possibilite o bom desempenho dos educadores da escola ciclada. Também não há suporte humano, pelo menos ainda, suficiente para atender a demanda.

Ao longo da história da educação, enfim, nos deparamos com uma problemática principal ligada à sua estrutura ideológica. Falar de problemas da educação brasileira, é falar das estruturas ideológicas que a construíram ao longo dos tempos, é falar da marginalidade educacional a que foram colocadas as classes menos favorecidas, contrapostas à classe dominante, que sempre teve a educação a seu serviço; é, ainda, falar da necessidade de se pensar a educação como um meio que favoreceria a inclusão e a superação constante e crescente, interligando os diversos saberes, construindo conhecimento. A pergunta não versaria sobre qual o melhor modelo pedagógico, mas sobre a real finalidade da educação e sobre qual ideologia que melhor a define.

Autor: Dennys Christian.

REFERÊNCIAS

A Filosofia da Educação para a liberdade. Disponível em: http://ghiraldelli.wordpress.com/. Acessado em 25/04/2009.

ALVES, Nilda & GARCIA, Regina Leite. Pra começo de conversa. In ALVES, Nilda e GARCIA, Regina Leite (orgs.) O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. p. 7 – 16.

Ciclos de Formação: Desafios da Teoria Pedagógica para as práticas escolares. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt06/gt06524int.rtf. Acessado em 20/04/2009.

Conheça os principais métodos pedagógicos que existem no Brasil. Disponível em: http://www.entrelinhas.unisinos.br/index.php?e=3&s=22. Acessado em 25/04/2009.

JOERKE, Gabriel Antônio Ogaya. Do diálogo e do dialógico na construção de uma prática interdisciplinar: possibilidades e limites. In: JOERKE, Gabriel Antônio Ogaya (org). Reconstruindo e integrando saberes e fazeres no 3º Grau – uma perspectiva dialógica. 2003. p. 55-64.

LOCKE, John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. Trad. Anoar Aiex. São Paulo: Editora Abril, 1978, p. 174.

MATO GROSSO. Seduc – Secretaria de Estado de Educação. Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso. 2009. p. 61

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 1991.



[1] LOCKE, John (1632-1704). Filósofo inglês da escola empirista, propagador da teoria da Tabula rasa em seu livro Ensaio acerca do entendimento humano, no qual afirma que o conhecimento é oriundo da experiência.

[2] Originalmente em: A Filosofia da Educação para a liberdade.2009.

[3] Originalmente publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao.

[4] In: Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso: “Taylorismo/fordismo: regime de acumulação que se inicia no início do século XX com os estudos de Taylor e Ford, materializados inicialmente na linha de montagem de automóveis, e que, expandindo-se para as demais esferas de trabalho, impacta a organização econômica e social, passando a ser dominante nos anos de 1945 a 1980; caracteriza-se por exercer rígido e despótico controle sobre o trabalho, através da fragmentação das tarefas, da desqualificação do trabalhador, do pagamento por produção e do controle das condutas dos trabalhadores. Ver Gounet, T. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo, Boitempo, 1999.”

[5] “A interdisciplinaridade exige uma prática dialógica; haja vista a exigência do diálogo entre as ciências.” In: JOERKE, Gabriel Antônio Ogaya (org). Reconstruindo e integrando saberes e fazeres no 3º Grau – uma perspectiva dialógica. 2003.

[6] Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso, 2009.

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